Reportagem original
6 fevereiro 2019
NASA –
Astrônomos dizem ter a primeira evidência de uma colisão direta entre dois planetas em um sistema estelar distante.
Eles acreditam que o evento cósmico produziu um mundo rico em ferro, com quase dez vezes a massa da Terra. Uma colisão semelhante muito mais próxima de nós teria levado à formação da Lua há 4,5 bilhões de anos.
A descoberta foi feita por astrônomos nas Ilhas Canárias ao observar um sistema a 1,6 mil anos-luz de distância. Os planetas estudados giram em torno de uma estrela parecida com o sol chamada Kepler 107 na constelação de Cygnus.
Acredita-se que um dos planetas, Kepler 107c, tenha um núcleo de ferro que compõe 70% de sua massa, com o restante consistindo possivelmente de um manto rochoso.
Outro planeta mais próximo da estrela deste sistema, Kepler 107b, é 50% maior do que a Terra, mas tem metade da densidade.
Colisão teria ocorrido a mais de 60 km/s
Os cientistas acreditam que o planeta rico em ferro foi formado quando colidiu frontalmente em alta velocidade com outro objeto, o que teria desprendido a parte mais leve de sua camada externa.
Eles calcularam que os planetas deveriam estar viajando a mais de 60 km/s no momento do impacto.
Zoë Leinhardt, pesquisadora da Universidade de Bristol, na Inglaterra, e coautora do estudo, explicou que foram usadas simulações de computador para testar as teorias.
“Antes, haveria dois objetos onde Kepler 107c está, e eles teriam colidido. Agora, há apenas o 107c”, disse ela à BBC News.
“Outra possibilidade é que o 107c tenha sido atingido várias vezes por objetos menores. O problema com essa teoria é: por que isso aconteceu apenas com o 107c? Seria um pouco mais fácil de entender se fosse um evento único, mas isso não significa que tenha sido apenas um evento.”
Sistema estelar seria ‘um local violento’
GETTY IMAGES –
Chris Watson, da Queen’s University, na Irlanda do Norte, liderou a pesquisa e disse que este sistema planetário “teria sido um lugar violento”.
Agora, estamos vendo o que restou desta colisão em alta velocidade entre dois objetos, afirmou.
“Encontramos dois planetas em uma órbita muito semelhante, em torno da mesma estrela, mas com densidades muito diferentes”, disse à BBC News.
“Um é rochoso, e o outro é feito de um material muito mais denso, provavelmente de ferro. A única maneira de realmente explicar isso seria que, em um deles, uma superfície rochosa tenha sido removida por uma colisão conjunta.”
Como sistemas planetários se formam
Outra teoria – de que a radiação da estrela-mãe teria sugado o gás do que seriam planetas do tamanho de Netuno – foi descartada. Este processo teria feito com que o 107b fosse mais denso que o 107c e não o contrário.
A pesquisa publicada na revista Nature Astronomy levanta novas questões sobre como sistemas planetários se formam e evoluem em partes distantes do Universo.
Leinhardt explicou que os planetas em questão provavelmente se formaram em um ponto mais distante da estrela e então migraram, enquanto a gravidade da estrela-mãe sugava material gasoso, um processo conhecido como acreção.
“À medida que a acreção ocorria, os planetas estavam sendo torcidos, arrastados e interagiam com aquele disco de gás – e também se moviam. Enquanto se moviam, chegavam o mais próximo possível um do outro”, explicou.
Pode ter sido durante esta fase que o impacto ocorreu: “Talvez, conforme esta migração ativa ocorria e matéria estivesse se acumulando na estrela central, isso tenha causado uma instabilidade em algum lugar – e gerado um abalo”, disse Leinhardt.